O dólar caminha para fechar 2025 acumulando a maior queda anual desde 2017. E a expectativa é de que venha mais por aí em 2026, em meio aos cortes de juros promovidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
A moeda americana registra queda acumulada de 9,5% frente a uma cesta com as principais divisas globais, segundo cálculos do jornal Financial Times (FT), impulsionada pela guerra comercial promovida pelo presidente Donald Trump e por investidores começando a questionar o status da “verdinha” como porto seguro para investidores.
Dentre as principais moedas do mundo, o euro foi quem mais ganhou valor frente ao dólar, subindo quase 14%, para acima de US$ 1,17. É o maior nível registrado desde 2021.
O real, por sua vez, registra alta de 12,5% no ano, maior avanço desde 2016, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta feito a pedido do NeoFeed. A comparação foi feita a partir do dólar Ptax, taxa de câmbio oficial de referência para o dólar no Brasil.
Embora o enfraquecimento do dólar tenha se iniciado com a política comercial de Trump, em abril, chegando a acumular uma baixa de 15% ante as principais moedas globais, os cortes de juros do Fed a partir de setembro ajudaram a pressionar a moeda.
A queda do dólar em 2025 não foi tão pronunciada, em parte devido à não materialização das expectativas de que as tarifas levariam os Estados Unidos a uma recessão. Os investimentos na tese de inteligência artificial (IA), que puxaram as bolsas americanas ao longo do ano, também ajudaram a frear a desvalorização do dólar.
Mas a tendência é de queda, com a política monetária continuando a empurrar o dólar para baixo. Isso deriva das sinalizações do Fed de que deve cortar juros no ano que vem – as expectativas variam entre dois e três cortes de 0,25 ponto percentual –, enquanto outras autoridades monetárias, como o Banco Central Europeu (BCE), apontam que manterão e até elevarão os juros.
No caso do Brasil, ainda que a expectativa seja de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) comece a afrouxar a política monetária no ano que vem, a Selic continuará em patamar bastante elevado, mantendo o diferencial de juros favorável à valorização do real. Atualmente, a Selic está em 15% ao ano e o consenso de mercado aponta que a taxa deva encerrar 2026 em 12,25% ao ano, segundo o Relatório Focus.
A tendência do dólar em 2026 também será influenciada pelo nome que Trump escolher para substituir Jerome Powell no comando do Fed a partir de maio. Sobretudo, se o eleito atender as demandas da Casa Branca por cortes mais profundos nos juros, para estimular a economia e as exportações.
O FT apurou que investidores de bonds sinalizaram a membros da Secretaria do Tesouro receios em relação a Kevin Hassett, tido como um dos favoritos na sucessão. O medo é que ele obedeça às ordens de Trump, em vez de seguir os dados econômicos, numa sinalização de perda de independência do Fed.
Um Fed completamente alinhado à Casa Branca gera receios a respeito da política econômica dos Estados Unidos, que poderia prejudicar o status do dólar nos dias seguintes ao “Dia da Liberação”, data em que Trump anunciou seu tarifaço.


