Avião da American Airlines Getty Images Errar algumas jogadas no ping-pong pode parecer irrelevante. Mas, para Ron Weiland, piloto experiente da American A Avião da American Airlines Getty Images Errar algumas jogadas no ping-pong pode parecer irrelevante. Mas, para Ron Weiland, piloto experiente da American A

"Ele foi envenenado". Como a fumaça tóxica de aviões pode matar pilotos e tripulantes

2025/12/22 21:10
Avião da American Airlines — Foto: Getty Images Avião da American Airlines — Foto: Getty Images

Errar algumas jogadas no ping-pong pode parecer irrelevante. Mas, para Ron Weiland, piloto experiente da American Airlines, falecido no início de 2019, foi o primeiro sinal de que algo estava profundamente errado. Aos 54 anos, em boa forma física e com a carreira consolidada, ele começou a errar movimentos simples, a falar de forma arrastada e, pouco depois, a perder o controle sobre funções básicas do corpo.

Dois anos antes da sua partida, Weiland foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença neurodegenerativa de rápida progressão que destrói as células cerebrais responsáveis pelo controle muscular do corpo. Para a família, o início desse processo coincidiu com um episódio específico: a inalação de fumaça tóxica dentro da cabine de um avião.

Continuar lendo

Reportagem investigativa do The Wall Street Journal relata que, dois meses antes da partida de pingue-pongue, Weiland notou um forte cheiro de óleo de motor enquanto taxiava seu Boeing 767 na pista do Aeroporto Internacional de Miami, nos Estados Unidos. Ele abortou o voo, desembarcou os passageiros e permaneceu a bordo para ajudar os mecânicos. Junto com o cheiro, se formaram densas nuvens no interior do avião, que ele aspirou por um tempo.

O incidente é conhecido na indústria área como um evento de emissão de gases tóxicos, provocados por vazamentos de óleos sintéticos ou outros fluidos nos motores de uma aeronave. Os efeitos da inalação desses gases costumam ser passageiros, leves ou assintomáticos. No entanto, alguns passageiros e tripulantes foram diagnosticados com doenças graves e de longa duração - e, em alguns casos, fatais.

Martha Weiland, esposa de Weiland, entrou com um processo contra a Boeing em 2020, alegando que a exposição de seu marido ao ar contaminado da cabine o levou a desenvolver a doença que o matou. Em 2022, um dia antes da seleção do júri, a Boeing resolveu a ação judicial - o valor do acordo está sujeito a um acordo de confidencialidade.

Relatos de incidentes com fumaça aumentaram drasticamente nos últimos anos, de acordo com o Wall Street Journal. O jornal noticiou em setembro que, entre as maiores companhias aéreas dos Estados Unidos, esses incidentes ocorreram quase 10 vezes mais em 2024 do que uma década antes.

No caso da Boeing, em resposta ao processo movido pela esposa de Weiland, seus advogados reiteraram a posição de longa data da indústria de que a pesquisa sobre os efeitos na saúde causados por vapores tóxicos é inconclusiva. “O ar da cabine dentro dos aviões da Boeing é seguro", afirmou um porta-voz da companhia do WSJ.

Ele acrescentou "que os níveis de contaminantes nas aeronaves são geralmente baixos e que os padrões de saúde e segurança são atendidos", e afirmou que a empresa continuará trabalhando com cientistas para entender melhor os ambientes das cabines e estudar novas tecnologias.

Apesar de a indústria área não reconhecer o perigo dos eventos de emissão de gases tóxicos, uma revisão de dezenas de artigos de pesquisa recentes e entrevistas com mais de 20 profissionais médicos, incluindo especialistas em cérebro e coração, epidemiologistas e toxicologistas, demonstrou uma convicção crescente sobre a ligação entre esses casos e diagnósticos potencialmente fatais.

“É um padrão. Não posso ignorá-lo”, disse Frank van de Goot, patologista forense holandês que afirmou ter realizado autópsias em 18 membros de uma tripulação que apresentavam sinais de exposição a substâncias tóxicas.

Gregory O'Shanick, especialista em medicina de lesões cerebrais de Richmond, tratou tripulantes de voo com lesões graves que, segundo ele, foram causadas pela exposição a substâncias tóxicas em aeronaves comerciais. Ele também identificou o que descreveu como paralelos claros entre os sintomas das tripulações e aqueles encontrados em soldados com traumas concussivos causados por exposição a produtos químicos e explosões em campos de batalha.

O especialista apontou que, em ambos os grupos, as ligações entre traumatismo craniano grave e doenças cerebrais potencialmente fatais, incluindo ELA, demência, tumores cerebrais e depressão aguda, são "extremamente bem estabelecidas e correlacionadas".

Michael Freeman, professor de epidemiologia forense da Universidade de Maastricht, salientou que “temos muitos motivos para nos preocuparmos e muitos motivos para suspeitarmos, de fato”.

Cheiro estranho

Outro caso relacionado à exposição a gases tóxicos em uma aeronave aconteceu em julho de 2015. O piloto James Anderberg comandava um voo da Spirit Airlines de Chicago para Minneapolis e de volta, com planos de seguir para Boston, mas, nos dois primeiros trechos, ele e o primeiro oficial Eric Tellman sentira um cheiro estranho se espalhando pelo Airbus A319 assim que iniciaram a descida.

Os dois, então, chamaram a equipe de manutenção, que informou não haver nenhum problema a ser resolvido. O WSJ destacou que, quando Anderberg protestou, seu superior disse que suas reclamações estavam atrasando a programação de voos do dia.

A viagem seguiu, mas, ao iniciarem a terceira descida, sobre Boston, os vapores retornaram. Tellman contou que se sentiu confuso e ficou preocupado com a possibilidade de desmaiar. Anderberg já caído em seu assento, com os olhos semicerrados.

O primeiro oficial colocou uma máscara de oxigênio e si e, depois no colega. “Para que fique claro: se eu não tivesse colocado minha máscara de oxigênio naquele voo de julho, teríamos matado todas as pessoas a bordo da aeronave”, escreveu Tellman em uma carta ao seu sindicato, detalhando a experiência.

Nos dias seguintes, ambos os pilotos ficaram acamados, vomitando, com diarreia e tremores nas mãos e pernas. Depois que Anderberg voltou ao trabalho, os pilotos que voavam com ele notaram que ele estava com dificuldades de coordenação motora. No dia 4 de setembro, ele foi a um hospital local queixando-se de tremores nos braços e pernas e de insônia grave.

No dia seguinte, uma mulher chamou a polícia após o piloto supostamente ter agido de forma agressiva com ela. Ao chegarem ao local, os policiais notaram que ele estava com dificuldades para responder a perguntas básicas. Algemado e colocado no chão, ele sofreu um ataque cardíaco fatal.

Na autópsia, os peritos encontraram inflamação no músculo cardíaco, além de um nível tóxico de analgésicos no sangue. O perito garantiu que a droga não explicava completamente seu comportamento errático nem os sintomas apresentados no dia anterior. A causa da morte foi considerada indeterminada, tendo o médico legista declarado que não foi possível confirmar ou descartar o papel desempenhado pela exposição a gases tóxicos na aeronave.

Óleo queimado

O WSJ salientou que, em abril deste ano, pesquisadores na Itália descreveram uma série de lesões cardíacas causadas pela exposição a substâncias tóxicas presentes no óleo de motor queimado. E elas coincidem com a encontrada na autópsia de Anderberg.

Sylvia Baird, ex-comissária de bordo da US Airways, também foi exposta a um grave evento de fumaça em um Boeing 767 em janeiro de 2010. O cheiro começou enquanto o avião taxiava. Na ocasião, vários passageiros da classe econômica pediram compressas de gelo para aliviar suas dores de cabeça repentinas, e alguns começaram a vomitar. Na primeira classe, os passageiros estavam tão imóveis que a tripulação parou para verificar se todos ainda estavam respirando.

Cerca de 18 meses após esse voo, seis membros da tripulação foram diagnosticados com lesão cerebral induzida por substâncias químicas -e por médicos diferentes em estados diferentes. Três deles, incluindo Baird, sofreram acidente vascular cerebral (AVC) desde então. Outros dois morreram de câncer. Um capitão cometeu suicídio.

Em 2016, os médicos descobriram e removeram o primeiro tumor cerebral de Baird. Em 2020, encontraram outro, inoperável. Apesar de não ter provas definitivas de que os gases de escape da aeronave tenham causado o seu problema, ela decretou: "Não tenho dúvidas [de que foi isso]".

Mais recente Próxima Por que nova campanha da Havaianas levou grupos de direita a pedirem boicote à marca
Oportunidade de mercado
Logo de Ping
Cotação Ping (PING)
$0.006017
$0.006017$0.006017
-2.63%
USD
Gráfico de preço em tempo real de Ping (PING)
Isenção de responsabilidade: Os artigos republicados neste site são provenientes de plataformas públicas e são fornecidos apenas para fins informativos. Eles não refletem necessariamente a opinião da MEXC. Todos os direitos permanecem com os autores originais. Se você acredita que algum conteúdo infringe direitos de terceiros, entre em contato pelo e-mail [email protected] para solicitar a remoção. A MEXC não oferece garantias quanto à precisão, integridade ou atualidade das informações e não se responsabiliza por quaisquer ações tomadas com base no conteúdo fornecido. O conteúdo não constitui aconselhamento financeiro, jurídico ou profissional, nem deve ser considerado uma recomendação ou endosso por parte da MEXC.